Anisaquíase (verme do sushi): como se pega e tratamento
A anisaquíase é uma infecção parasitária resultante da ingestão de peixes ou frutos do mar contaminados com larvas do parasita Anisakis. Essa condição pode causar sintomas como dor abdominal, náuseas e reações alérgicas. O aumento da popularidade de pratos à base de peixe cru, como sushi e ceviche, tem contribuído para um maior reconhecimento dessa infecção.
O que é a anisaquíase?
A anisaquíase é uma infecção intestinal causada por vermes nemátodes da família Anisakinae, incluindo Anisakis simplex, Anisakis physeteris e Pseudoterranova decipiens. Esses parasitas são comumente adquiridos através da ingestão de frutos do mar ou peixes crus ou mal cozidos. Embora a anisaquíase seja considerada uma doença rara, sua incidência tem aumentado com a popularização de pratos que incluem peixe cru, como sushi, carpaccio de salmão, salmão defumado e ceviches.
A infecção é principalmente observada em mamíferos marinhos, como baleias, golfinhos, leões marinhos e focas, sendo o ser humano um hospedeiro acidental. O ciclo de vida do parasita é complexo e envolve várias etapas, incluindo:
- Mamíferos marinhos contaminados excretam ovos do verme através das fezes.
- Os ovos eclodem na água e liberam larvas que nadam livremente.
- As larvas são ingeridas por crustáceos, onde se desenvolvem.
- Quando crustáceos contaminados são consumidos por peixes ou lulas, as larvas se deslocam do trato gastrointestinal para os músculos do hospedeiro.
- Peixes contaminados são então ingeridos por mamíferos marinhos, completando o ciclo.
A contaminação humana ocorre principalmente na quinta fase do ciclo, mas ao contrário dos mamíferos marinhos, as larvas de Anisakis não conseguem se desenvolver em vermes adultos dentro do corpo humano, interrompendo seu ciclo de vida.
Como ocorre a contaminação?
A contaminação por Anisakis ocorre quando uma pessoa consome carne crua ou mal cozida de peixes infectados. Espécies como salmão, arenque, cavala e lula são frequentemente associadas a essa infecção, enquanto o bacalhau pode transmitir tanto Anisakis quanto Pseudoterranova.
As larvas geralmente se alojam no músculo dos peixes e podem ser identificadas durante o preparo. Para prevenir a infecção, recomenda-se cozinhar o peixe a uma temperatura mínima de 70°C ou congelá-lo a -20°C por pelo menos 72 horas (idealmente 7 dias) ou a -35°C por 24 horas. É importante ressaltar que o processo de defumação não elimina o parasita.
Apesar do aumento no número de restaurantes de sushi, a anisaquíase permanece relativamente rara devido a práticas de segurança alimentar, como o congelamento do peixe antes de ser servido e o uso de peixes criados em cativeiro, que têm menor risco de contaminação.
Incidência da anisaquíase pelo mundo
A anisaquíase é uma condição ainda pouco conhecida, tanto pelo público quanto pela comunidade médica. No Japão, onde a incidência é maior, a taxa de infecção é de aproximadamente 3 casos novos para cada 1 milhão de habitantes, resultando em cerca de 400 novos casos anualmente. Na Holanda, o hábito de consumir arenque cru também é um fator que contribui para a incidência da doença. O primeiro caso registrado na literatura médica ocorreu na Holanda em 1960, mas a legislação que exige o congelamento do arenque antes da venda praticamente eliminou a doença nesse país.
Nos países ocidentais, a incidência da anisaquíase é menos documentada, e é possível que a prevalência real seja maior do que os dados sugerem. No Brasil, embora não existam casos registrados oficialmente, o parasita já foi identificado em peixes como anchova, bacalhau e cavala, o que levanta preocupações sobre infecções não diagnosticadas. Recentemente, um caso de anisaquíase foi amplamente divulgado em Portugal, onde um paciente apresentou sintomas graves após consumir sushi.
Sintomas da anisaquíase
Os sintomas associados à anisaquíase são geralmente resultantes de danos diretos aos tecidos do trato gastrointestinal ou reações alérgicas ao parasita. A reação alérgica, que ocorre em menor frequência, pode surgir rapidamente após a ingestão de peixe contaminado, apresentando-se como erupções cutâneas, coceira e formigamento na garganta. Em casos raros, pode haver angioedema ou anafilaxia.
Os sintomas gastrointestinais costumam ser causados por uma reação inflamatória resultante da presença do parasita. A larva tenta penetrar a mucosa do sistema digestivo, frequentemente levando à sua morte no processo, o que provoca uma intensa resposta inflamatória. A anisaquíase gástrica normalmente se manifesta entre 1 a 8 horas após a ingestão de peixe contaminado, apresentando-se com dor abdominal aguda, febre baixa, náuseas e vômitos. Pacientes que vomitam podem expelir a larva, resultando na cura.
Já a anisaquíase intestinal pode ocorrer de 5 a 7 dias após a ingestão, manifestando-se com dor abdominal intensa, distensão abdominal, febre e até obstrução intestinal. A presença de diarreia com sangue ou muco também é comum. Em casos extremos, a larva pode perfurar o intestino, levando a complicações como peritonite.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da anisaquíase geralmente é realizado por meio de endoscopia digestiva alta, que permite a visualização da larva no estômago. Se a larva não estiver mais presente, o diagnóstico pode se tornar mais complicado. Exames de sangue que detectam a infecção pelo Anisakis estão disponíveis, mas não são amplamente utilizados, e o médico deve ter um alto índice de suspeição para solicitá-los.
No que diz respeito ao tratamento, a remoção da larva do estômago por meio de endoscopia é eficaz e geralmente leva à resolução dos sintomas. Caso a larva tenha penetrado no intestino, causando abscessos ou obstruções, a cirurgia pode ser necessária. O uso de albendazol tem mostrado eficácia em alguns casos, com doses recomendadas de 400 mg a cada 12 horas por três dias.
Referências
- Miscellaneous nematodes – UpToDate.
- Anisakis – Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (Portugal).
- Parasites – Anisakiasis – Centers for Disease Control and Prevention.
- Anisakidosis: Perils of the deep – Clinical infectious diseases.
- Treatment of anisakiasis with albendazole – The Lancet.
- Sushi delights and parasites: the risk of fishborne and foodborne parasitic zoonoses in Asia – Clinical infectious diseases.
- Guerrant RL, Walker DH, Weller PF (eds). Tropical Infectious Diseases: Principles, Pathogens, and Practice, 2nd Edition. Philadelphia 2006.
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Observação Importante: As informações aqui apresentadas não substituem a avaliação ou o acompanhamento profissional. Sempre consulte um médico ou especialista em saúde para orientações personalizadas.